Judeu – filho da mãe?

Judeu – filho da mãe?

magal53
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Somos todos filhos de D-us

Um dia, no Éden, Eva diz a D-us: Estou com um problema! — Qual é o problema, Eva? —D-us, Você me Criou, me Colocou neste lindo jardim, com animais maravilhosos e uma serpente hilariante, mas não estou muito contente. — Por que? — D-us, estou só. — Bem, neste caso, Tenho uma solução.

Criarei um homem para você. — O que é um homem? — É uma criatura com características ruins: vai mentir, se vangloriar; mas o Criarei para satisfazer suas necessidades.

Não será muito inteligente assim ele também precisará do seu conselho para pensar bem. — Qual é o truque? Eva pergunta desconfiada. — Bem, tem uma condição. — Qual é? — Como Eu Disse, ele será orgulhoso e narcisista. Assim você vai ter que deixar ele acreditar que Eu o Fiz primeiro. É nosso pequeno segredo...

Você sabe, de mulher para mulher.Provocações à parte, D-us é “Pãe”, pai e mãe. Como o judaísmo não é antropomórfico, D-us não é homem nem mulher, mas abrange o “masculino” E o atributo feminino Shekhiná, Divina Presença.

Matrilinearidade

A maioria das sociedades antigas, orientais e as chamadas primitivas eram (e são) matrilineares e matriarcais; isto é, a linhagem, descendência é definida pela mãe e as mulheres têm o papel central na organização e controle (autoridade) de seus grupos, tribos ou nações.Sempre digo que o judaísmo é biblicamente definido como patriarcal E matriarcal (3 patriarcas: Abrão, Isac e Jacó e 4 matriarcas: Sara, Rebeca, Lea e Rachel); estas com maioria absoluta (4X3) e relativa, desde Gênesis 21:12: “D-us diz a Abraão: tudo o que Sara te disser, escuta a voz dela!”

A concepção errônea do machismo ocidental como herança “judaico-cristã” deriva ipso facto da sociedade greco-romana: gregos, cuja filosofia não conferia sequer uma “alma” à mulher e dava direitos senhoriais aos maridos, tendo melhorado um pouco entre romanos, com o casamento em conjugium (jugo mútuo), todavia oposta à concepção judaica da mulher e do casamento.Isto sem mencionar o papel especial da Ídishe Mame (mãe judia) que concede, após milênios de aculturação, a última palavra ao marido: Sim, querida!E o filho da mãe?

No judaísmo esta expressão não tem caráter pejorativo nem agressivo. Judeu é definido como “filho de mãe judia (ou conversa) ou convertido ao judaísmo”.Muitos, por questões pessoais ou sexistas, alegam que esta definição é “ginecológica”, deriva de halakhot (encaminhamentos legais, jurisprudências) medievais e contradiz a linhagem (Cohen, Levi, Israel), determinada pelo pai, que tem caráter simbólico litúrgico (embora cerimônias, por exemplo, o Pidion há-ben, resgate do primogênito, dependa da mãe ser Levita); além, claro, da argumentação “feminista” que hoje homens e mulheres desempenham os mesmos papéis sociais, etc., que demonstra um desconhecimento que no judaísmo isto é fato e princípio essencial, desde os primórdios. O “argumento de bolso inquestionável” de alguns é que a matrilinearidade não está definida na Torá. Sorry, periferia, mas está na Torá e no Talmud! Comecemos com a Halakhah.

Uma Halakhah medieval

Em 1319, aldeias de judeus foram atacadas e houve muitos estupros. Os rabinos exararam uma Halakhah para não prejudicar a vida judaica dos filhos nascidos do estupro de uma judia, para que não fossem execrados pela comunidade e sim, tratados com todos os seus direitos. Sob essa ótica, a lei mostra-se incrivelmente humana, pois em outras culturas, mãe com filho de estupro seria certamente expulsa do convívio social.

Observando-a em seu contexto, ela visava a preservar as pessoas e estabilizar uma situação terrível (como outras posteriores, semelhantes).Para quem duvida: está na Torá! A fonte básica da Torá sobre matrilinearidade judaica está em Deuteronômio 7:3,4: D-us ordena que, em Canaã, os homens não deverão se casar com mulheres gentias, de outros povos, para que seus filhos não se desviem, saindo do judaísmo; que o filho de moça israelita com gentio é judeu; já filho de judeu com gentia, não o é; o texto diz que será filho “dela”, isto é, não judeu.

Adicionalmente, Levítico 24:10 cita explicitamente o caso do filho de uma israelita com um egípcio como membro da comunidade israelita, isto é, judeu. Outra menção, já no Tanakh, em Esdras 10: 2-3, mais dura, mas sem dar margem a dúvidas, relata que os judeus que retornaram a Israel do exílio da Babilônia tiveram que abandonar suas esposas não-judias e seus filhos com elas.

Referências Helenistas

Flávio Josefo chega a se referir a filho de casamentos entre judeus e gentias como “meio-judeu” . Já Filon de Alexandria chama filho de judeu com não-judeu de “nothos” (bastardo), independente do ser o gentio o pai ou a mãe . Não satisfeito? Veja no TalmudO texto da Mishnah, tratado Kidushin 3:12, diz que o filho de mãe gentia é como ela, ou seja, não judeu. O Talmud (Kidushin 68b) questiona como saber se esta lei se aplica a qualquer não-judeu, já que o versículo da Torá se refere a povos canaanitas e responde, com base no próprio verso: “ele desviará teu filho de Mim (D-us)”, implicando que todos os que o fizerem estão incluídos.

Respostas atuais

O judaísmo reformista norte-americano adotou a política bilinear em 1983: é judeu se pai ou mãe for judeu, provando que foi criado como judeu e está engajado em ato público de identificação. Algumas congregações apresentam mais requerimentos formais, especialmente se o indivíduo foi criado como cristão. Outros movimentos dentro da União Mundial pelo Judaísmo Progressista adotam essencialmente a mesma posição, como o judaísmo liberal na Inglaterra; judaísmo progressista reconstrucionista nos EUA, Canadá, etc; judaísmo progressista na Austrália; uma congregação na Áustria e algumas na Europa Ocidental. Convém observar que o judaísmo reformista, no Canadá e na Inglaterra, adota uma posição diferente, mais próxima da Ortodoxia.

Ciência: novas questões

Um religioso observa as mitzvot per se, mesmo o judaísmo não sendo dogmático, o que não o impede de pesquisar e se desenvolver cientificamente – muito pelo contrário. Para ilustrar, cito, como homenagem, um ilustre filho de Israel em seu centenário, Albert Einstein: “A religião sem ciência é cega; a ciência sem religião é coxa”.

Uma das belezas do judaísmo é a capacidade de responder com leis milenares a questões novas, resultantes do avanço do tempo e da tecnologia. Assim, para concluir, inovações bastante atuais referem-se à maternidade: a inseminação artificial e a clonagem. Sem entrar em polêmicas éticas, juridicamente temos uma resposta milenar que, paradoxalmente, é a definição ortodoxa! Hipoteticamente um ser humano poderá ser gerado em laboratório, necessitando apenas da mãe... Sou totalmente a favor do método natural mais tradicional (no mínimo, o mais divertido), tendo sido uma estéril agraciada com o milagre de um filho e acho que crianças devem ter pai e mãe educando. Já me antecipando a perguntas ou pedradas, amparo-me na Mishnah: Honra como pai (genitor) aquele que te criou!

Notas1 - Antigüidades Judaicas 16:225;18:109, 139, 141; 14: 8-10, 121,403.2 - Sobre a vida de Moisés 2. 36, 193, 1. 27. 147; Sobre as virtudes 40. 224.

* Jane Bichmacher de Glasman é escritora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica, professora adjunta, Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos e do Setor de Hebraico da UERJ.

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6Comentários
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  2. Esse anônimos, deveriam ser proibidos aqui. Usem o nome, tenham coragem

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  3. Meu nome é Alexandre eu que fiz a pergunta sobre meu genro e minha filha apenas nao me indentifiquei pois nao consegui

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  4. Moises teve filhos judeus c uma midianita, assim como Pinchas era sacerdote judeu filho de uma midianita, tb David era rei judeu descendente de uma moabita, entre outros. Quanto a Levitico 24:10, o filho da israelita c um egipcio não era considerado judeu, tanto q ele acampava fora das Nuvens de Glória com a multidão misturada, por isso amaldiçoou o Nome de D'us. E Zilpa e Bila ancestrais de quase metade das tribos de Israel. Quem teme e ama Hashem c toda sua alma se esforça em estudar Torá p cumprir as mistvot no capricho por reconhecê-Lo, sendo esta a essência da palavra yehudi (judeu).

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  5. "A fonte básica da Torá sobre matrilinearidade judaica está em Deuteronômio 7:3,4: D-us ordena que, em Canaã, os homens não deverão se casar com mulheres gentias, de outros povos, para que seus filhos não se desviem, saindo do judaísmo; que o filho de moça israelita com gentio é judeu; já filho de judeu com gentia, não o é; o texto diz que será filho “dela”, isto é, não judeu."

    O que na verdade Deuteronômio diz é que "Não se casem com pessoas de lá (Canaã). Não dêem suas filhas aos filhos delas, nem tomem as filhas delas para os seus filhos, pois elas desviariam seus filhos de seguir-me para servir a outros deuses e, por causa disso, a ira do Senhor se acenderia contra vocês e rapidamente os destruiria." Apesar da explicação ser só que ELAS desviariam está claro que os casamentos onde se tomam as filhas deles para seus filhos também é errado.

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